1) O Governo Federal e especialistas vêm afirmando que a reforma da Previdência é necessária para resolver um problema que vem se agravando e que, em pouco tempo, vai estourar. Você concorda com essa afirmação ou não? Por quê?
Acredito que estamos em um ponto que a questão não é mais de discordar ou concordar e sim de como fazer, ser justo e preservar os mais vulneráveis. As reformas básicas do país estão há muito tempo sendo adiadas.
2) Sobre o atual projeto enviado pelo Governo, você é contra ou a favor? Por que?
Tenho discordâncias sérias. Principalmente em relação a aposentadoria rural e o Benefício de Prestação Continuada, o BPC. O cenário está muito confuso. Acredito que muitos pontos vão mudar no Plenário.
3) Caso seja favorável, quais seriam os aspectos mais importantes, do ponto de vista positivo, que você destacaria? Há, na sua opinião, algum ponto negativo na proposta e que necessitaria ser alterado ou complementado?
Como dito anteriormente, acredito que devam rever a aposentadoria rural e o BPC, qualquer reforma previdenciária deve ter como princípios maiores a proteção aos mais pobres e mais vulneráveis. Outro ponto sobre o qual tenho resistência é o regime de capitalização. Tenho dúvidas sobre essa questão.
4) Como você avalia a reforma da Previdência na vida do servidor público?
Defendo que se temos que mexer, vamos preservar os mais vulneráveis. É verdade que o servidor público paga uma maior contribuição, mas possuem melhor remuneração. A aposentadoria média de um funcionário do Congresso Nacional é quase 28 vezes maior que a de um trabalhador rural. A Justiça também é um problema. Há uma casta de privilégios que precisam ser combatidos.
5) E os impactos da reforma da Previdência nos servidores públicos vinculados a regimes próprios de previdência?
São casos mais específicos, a Petrobras tem o Petros e Furnas tem o Real Grandeza, por exemplo. São características e casos próprios, onde os servidores devem debater com a direção dos fundos de pensão.
6) Sua avaliação também na vida dos trabalhadores da iniciativa privada? E dos trabalhadores rurais?
A medida é impopular e isso é inegável. A população vai trabalhar mais para ganhar menos. Mas hoje o país gasta três vezes mais na Previdência do que na educação, como eu disse, essa reforma demorou muito a ser discutida.
Quanto ao trabalhador rural, desde o início me coloquei contra. Sou filho de administrador de fazenda. A vida no campo é dura, não se pode comparar. Além disso, o trabalhador rural, muitas vezes, tem menor acesso à saúde e outros benefícios públicos, por isso deve ser olhado com mais carinho.
7) Qual ou quais alternativa(as) você apontaria para os tópicos mais importantes da proposta, que considera negativos? O que essa proposta não traz e deveria trazer?
Acredito que não se deva mexer na aposentadoria rural e no BPC, já que alteração desses itens não impactará a meta de economia de R$ 1 trilhão em dez anos, almejada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e preservará os mais vulneráveis.
Creio também que a proposta de Reforma peca por não ter regras sobre capitalização mais claras e não ter metas sobre cobranças dos grandes CNPJs devedores, embora acredite na palavra do ministro que irá atrás dessas empresas.
8) Você acredita que falta - ou não falta - um debate mais aberto do tema com a sociedade brasileira?
Com certeza! A Reforma da Previdência está acima de questões ideológicas. É algo necessário para o futuro do país. É preciso transparência e debate e os cidadãos devem estar atentos aos seus representantes.
9) O aposentado ou pensionista, que já teriam seu direito adquirido, serão afetados por essa proposta?
Depende. Quem está aposentado não pode ter o benefício alterado, nem reduzido, porque é direito adquirido, mas ninguém está livre de ter que contribuir para o INSS.
Quem pensa em acumular mais de um benefício tem que ficar atento, da mesma forma que o servidor público que ganha mais que o teto do INSS, porque ele pode ser tributado.
Recomendo a quem está se aposentando a correr atrás da revisão do valor do benefício. Há muita gente que recebe menos do que deveria estar. Eles devem analisar o processo que deu origem ao benefício para ver se tem algum erro.
Toda reforma é uma "guerra", onde "batalhas" são travadas ponto a ponto. Há muitos interesses envolvidos e será impossível agradar a todos.
Nós temos um país injusto e desigual e lutar para reduzir essas diferenças é fundamental. Acho importante todos se informarem sobre esse momento do Brasil.